terça-feira, 17 de novembro de 2009

A LULA E A BALEIA

The Squid and the Whale

Gênero: Comédia
Duração: 81 min.
Ano: EUA - 2005
Distribuição: Samuel Goldwyn Films LLC / Columbia Pictures
Direção: Noah Baumbach

A LULA E A BALEIA- O ponto crucial é o conflito. Conflito que envolve a história de uma família, mas também e, fundamentalmente, narra a história da construção de um caráter.

Bernard e Joan Berkman, vividos respectivamente por Jeff Daniels e Laura Linney (ambos em atuações excelentes), resolvem que vão se separar. Foram dezessete anos de uma união que ao que tudo indica sobreviveu aos trancos e barrancos. Um casamento marcado pela ausência, silêncio, traição e egocentrismo. Ele professor universitário e escritor que há anos não consegue vender um livro para alguma editora. Ela, pelo contrário, em franca ascensão em sua carreira literária.

E é aí que a história encontra seu plano dramático, na forma que essa separação vai repercutir nos dois filhos do casal: Walt (Jesse Eisenberg) e Frank (Owen Kline).
Walt, verdadeiro protagonista da história, é um adolescente inebriado pelo conhecimento intelectual de seu pai, convencido desde sempre que um homem deve conhecer as grandes obras da literatura e do cinema mundial. É, sobretudo, um chato que cita obras de grandes autores, sem nunca ter lido, indeciso quanto ao rumo que sua vida deve tomar, que vive a sombra de seu pai.

O caçula Frank tenta agradar aos pais (em especial a mãe) sempre que tem oportunidade, desenvolvendo comportamentos reprováveis em decorrência do divórcio.
Dirigido e escrito por Noah Baumbach, A Lula e a Baleia – indicado ao Oscar 2006 de Melhor Roteiro Original – é entre outras coisas uma narrativa autobiográfica.
Diretor e Walt são uma única pessoa, o conflito é o mesmo: a busca por uma identidade própria. A personagem atravessa todo o filme contraponto situações e definindo sua moral. Plagiador da música “Hey You” do Pink Floyd, jovem preocupado com seu futuro, marionete paterno, vítima de seu ego são fragmentos de uma personalidade que culmina, por meio do desfecho milimétrico da película, num arremate primoroso.

A metáfora ganha corpo e a cena da luta entre os dois animais evocados no título do filme desnorteia o público ao suspender o resultado desse embate para o plano da vida real.

"Eu?... Eu estou só à espera que a chuva pare..." respondeu o menino, lançando um olhar à sua volta, como que a indagar sobre a existência daquele mar, até então desconhecido.

"A chuva não vai parar... Eu estou aqui desde sempre... Sozinha... Fiz desta massa azul a minha casa e nunca encontrei ninguém por aqui... És a primeira pessoa que cá vem... Estás perdido?"

O menino apercebeu-se da realidade... Estava perdido dentro de si mesmo...

"Sim... Quis tentar conhecer-me melhor, mas até agora...", disse, com uma voz trêmula.

"É verdade... É sempre assim... Não interessa muito aquilo com que se começa... Termina-se sempre com muito menos... E tu. Perdido dentro de ti... É normal. Nunca cá tinhas vindo... Não sabias nada sobre o teu interior, sobre quem na verdade és... Ainda não sabes, é certo, mas começas a perceber que as coisas não são o que parecem... Por exemplo... A chuva... Sabes porque não vai parar? Porque aqui não chove. Este lugar não existe, logo não pode chover aqui... Isso foi só uma metáfora que conseguiu fugir ao narrador, uma forma de dizeres que, na verdade, estás apenas à espera de algo que te faça parar de chorar... E sim, tens razão... Este mar não existia. Eu, sim. Mas o mar não... Formou-se com as tuas lágrimas... Não aquelas que saíram de ti, essas perderam-se no mundo real. Mas todas aquelas que não choraste, caíram para dentro de ti e foram formando rios, lagos... Até crescerem e formarem a minha casa. E eu, deves perguntar-te... Mas afinal quem sou eu? Eu sou só uma outra parte de ti... A tua parte eterna, a parte que sobrevive sempre, a tua essência... Por isso concentra-te, respira fundo, e pergunta-me tudo o que quiseres saber sobre ti..."

O menino não queria acreditar... Finalmente tinha chegado ao sítio onde queria ir... A resposta às suas perguntas, a verdade sobre a sua vida... Respirou fundo. O olhar sábio da baleia trazia-lhe confiança.

Esse filme me lembra O Pequeno Príncipe. Ótimo filme. Toda a trama gira em torno de sonho e realidade. E é nesse embate que vamos tendo a certeza de que o mundo não gira em torno de nós, mas que gostaríamos que assim o fosse.

A direção é perfeita, os atores magníficos.Iluminação perfeita. A montagem é ótima.

Quem dera a nossa vida fosse uma comédia. Quanta alegria não haveria de ser?
Cinco estrelinhas do mar...

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